A poucos dias da entrada em vigor do novo pacote tarifário dos Estados Unidos — que prevê sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros —, uma sinalização vinda de Washington trouxe algum alívio ao setor exportador nacional. Em entrevista à rede americana CNBC, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que alimentos não produzidos internamente podem ser isentos das novas tarifas. Entre os exemplos citados estão café, frutas tropicais, sucos — como o de laranja — e óleo de palma, itens relevantes na pauta de exportações brasileiras. No entanto, Lutnick não mencionou se o Brasil será beneficiado pela medida.
Enquanto isso, o governo brasileiro tenta abrir um canal direto de diálogo com a Casa Branca. Segundo fontes próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há disposição para uma ligação direta com o presidente Donald Trump. Diplomatas, contudo, avaliam que Trump não tem demonstrado abertura para essa interlocução. A preocupação do Itamaraty é que Lula seja tratado de forma semelhante à que Trump já adotou com os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Para os diplomatas, um contato direto só ocorrerá após um entendimento prévio entre os governos.
Em viagem a Washington, o líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT-BA), considerou improvável que uma conversa entre os presidentes aconteça antes do início da vigência das tarifas, previsto para esta sexta-feira (1º). “O encontro de dois presidentes da República não se prepara da noite para o dia”, afirmou.
Por sua vez, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou qualquer possibilidade de retaliação comercial imediata aos EUA. Ele afirmou que "revidar na mesma moeda" não faz parte das opções consideradas pelo governo. “Estamos pensando no povo brasileiro”, disse, ao defender que o impasse seja resolvido por meio da via diplomática. O ministro ainda criticou comparações com gestões anteriores: “Você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro, abanando o rabo e falando ‘I love you’”, afirmou.
Na avaliação do colunista Vinícius Torres Freire (Folha de S.Paulo), Trump busca impor submissão a países latino-americanos, como forma de responder a processos legais enfrentados por ele e aliados, como Jair Bolsonaro. “Chegamos ao ponto de gangues políticas e partidos organizarem um ataque estrangeiro contra o país”, escreveu.
A jornalista Flávia Tavares, em comentário publicado no canal Cá entre Nós, reforçou que Lula precisa reagir com firmeza à pressão dos EUA. Para ela, recuar sem marcar posição representaria perdas tanto para o presidente quanto para o país.
Fonte: newsletter@canalmeio.com.br