Publicado em 09/06/2019 - 12:56
Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil São Paulo/Site EBC
A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet/Google
Os distúrbios de aprendizagem acometem de 5 a 15% de crianças em idade escolar, em diferentes idiomas e culturas, sendo os específicos em leitura e escrita altamente prevalentes. O dado é do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2015), publicação da American Psichiatric Association.
Distúrbios de aprendizagem são problemas que afetam a capacidade da criança de receber, processar, analisar ou armazenar informações. Os distúrbios podem dificultar a aquisição, pela criança, de habilidades de leitura, escrita, soletração e resolução de problemas matemáticos.
Para alertar e colocar este assunto em debate também entre a população, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) promove neste mês a campanha Junho Púrpura - Distúrbios de Aprendizagem: conhecer, perceber, enfrentar. O objetivo é levar dados e atualização aos pediatras sobre o aprendizado, suas dificuldades e distúrbios.
“Precisamos trazer o problema para o consultório e não deixá-lo apenas na escola e, dessa forma, contribuir para uma orientação aos pais, esclarecendo dúvidas e ajudando as famílias na difícil escolha dos especialistas ou profissionais que devem procurar”, afirmou a presidente do Departamento de Otorrinolaringologia da SPSP e coordenadora da campanha, Renata Di Francesco.
Segundo o coordenador de campanhas da SPSP, Claudio Barsanti, a conscientização dos profissionais de saúde para a questão é fundamental. “O quanto antes a causa dos distúrbios for detectada, melhor. Dessa maneira, serão realizadas as intervenções necessárias para que essas crianças possam ter um diagnóstico e encaminhamento adequados”.
Barsanti explicou que sinais como alterações na percepção, escuta, visão, entre outros, devem ser observados e tratados o mais rapidamente possível. “Os profissionais devem estar atentos nesse sentido, pois o tratamento adequado precoce fará toda a diferença no futuro dessas crianças”, ressaltou.
Entre as ações da campanha, fazem parte o treinamento com os pediatras e materiais orientadores aos pais. “A campanha vai apresentar textos de orientação à população inseridas no blog do site da SPSP, vamos elaborar um curso de orientação aos pediatras e outros textos de orientação aos médicos. É uma campanha que visa as duas frentes, que é a orientação dos pacientes e dos médicos para que isso seja bem englobado”, informou Renata.
Para a coordenadora da campanha, é importante trazer essas queixas escolares para os médicos durante a consulta.
“Às vezes os pais estão muito preocupados com doenças, com peso, altura, com infecções e deixa de falar que a criança não está indo bem na escola. Muitas vezes o aproveitamento ruim da criança na escola está relacionado com déficits auditivos, com problemas visuais e às vezes com coisas mais complexas, por exemplo, uma dislexia ou outros distúrbios importantes que possam estar relacionados com esses problemas.”
Após observar algumas alterações no modo de fazer a lição de casa de seu filho Rafael, de 7 anos, a pesquisadora A.B., que prefere ter seu nome preservado, disse que vem percorrendo uma longa jornada para fechar o diagnóstico de seu filho.
Inicialmente ele foi diagnosticado, por meio de uma avaliação neuropsicológica, como portador do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), mas ele pode ter o Transtorno do Processamento Auditivo Central. A criança vem sendo acompanhada pelo pediatra, e também por fonoaudiólogo e psicóloga.
“Comecei a perceber em casa que ele estava com dificuldade para fazer certas lições e coisas que ele já tinha aprendido, foi uma dificuldade que me chamou atenção. Marquei uma reunião com a escola que confirmou, achando que ele estava com um pouco de dificuldade para avançar e sugeriu que ele fizesse a avaliação neuropsicológica”.
Após esta avaliação, a pesquisadora conta que começou uma ‘via crucis’ atrás de especialistas. “A gente começou a procurar psicólogas, fui em cinco diferentes até eu achar uma que condissesse com o que eu penso, fui em neurologista, e os dois disseram que o TDAH precisa de medicação”.
Mas a pesquisadora não estava confiante em medicar seu filho e foi em busca de outras avaliações. “Comecei a entrar em outras vias, ele faz tratamento psicológico, fui atrás [para saber] do Transtorno do Processamento Auditivo Central e quando percebi que ele tinha essa alteração, eu apostei todas essas fichas nisso. Até a gente solucionar essa alteração, eu não quero pensar em medicação, ele vai fazer tudo o que tem que fazer com fonoaudióloga e um psicomotricista para ajuda-lo”.
Desde então, ela disse que ele vem evoluindo bem. “A escola mesmo disse que ele está bem mais concentrado, conseguindo acompanhar bem a turma, ele jamais teve que fazer uma prova diferenciada, ele tem ajuda na hora do enunciado, mas está indo bem e a parte social também está supercontrolada”.
Ela aconselha às famílias a se informar muito quando se deparar com algum transtorno de aprendizagem. “Leia tudo, mas não dê apenas um ‘google’, mais do que isso, é importante procurar um profissional que você confie e se informar muito. A informação é a única coisa que vai te ajudar a ajudar seu filho, entender do que se trata é fundamental para as ações que terá em seguida e eles precisam muito da gente”, finalizou.
Edição: Maria Claudia