O que está em disputa no Senado, além da escolha do sucessor de Renan Calheiros, é a pauta a ser estabelecida diante do temido avanço da Lava Jato, turbinado pelas delações da Odebrecht.
Eunício Oliveira é pule de dez no páreo no Senado. A turma de Renan faz marola, mas não tem cacife para derrotá-lo na bancada do PMDB, muito menos no plenário.
Mesmo assim, mantém Eunício sob forte pressão. A intenção é passar o bastão do cargo, mas continuar compartilhando o poder. Renan quer continuar a dar as cartas no Senado.
Sua turma avalia que Eunício pisará no freio da ofensiva contra juízes e procuradores, cruzada de Renan, incentivada pelo ex-presidente José Sarney e, sobretudo, por Jader Barbalho.
Eles elencam pelo menos três motivos para a desconfiança:
1) – Em uma atitude inesperada, e até agora sem uma explicação convincente, Rodrigo Janot se declarou impedido para propor ao STF investigação sobre Eunício;
2) – Eunício teria roído a corda na tentativa de Renan de criar um fato consumado na represália contra investigadores da Lava Jato. Eunício se recusou a referendar, a toque de caixa, o monstrengo aprovado na Câmara na mutilação do pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público.
3) – Em jogada ensaiada com Jader Barbalho e Roberto Requião, Renan forçou o Senado a aprovar um projeto sobre abuso de autoridade, nas circunstâncias uma mesquinha represália contra quem investiga e julga corrupção. Não colou. A turma de Renan diz que uma das causas do fracasso foi a não adesão de Eunício.
Renan, Jader, Edison Lobão, Romero Jucá, João Alberto, entre outros peemedebistas, aproveitam a sucessão no Senado para conseguir algum tipo de proteção contra a Lava Jato. Não estão sós. Nos mais variados partidos, há desejos semelhantes,
Mas há, também, quem pressione Eunício com uma agenda bem diferente. Cristovam Buarque, Randolfe Rodrigues e uma penca de senadores independentes querem o compromisso de Eunício de que não endossará a vendetta de Renan e companhia.
Querem o compromisso de Eunício de que o Senado negociará com juízes, procuradores e a sociedade uma moderna, necessária e democrática lei sobre abuso de autoridade. Querem mais: pautar a votação do fim do foro privilegiado para mais de 20 mil autoridades, uma jabuticaba podre, uma das pedras angulares da impunidade no país.
Repórter de Política há mais de 40 anos, Andrei Meireles passou pelas redações dos jornais O Globo e Jornal de Brasília, das revistas IstoÉ e Época, foi comentarista político do boletim diário da revista Época na rádio CBN e colunista do Fato Online. Um dos mais premiados jornalistas brasileiros, tem dois prêmios Esso (de Reportagem em 2000 e de Jornalismo em 2001) e três prêmios Embratel (de Jornais e Revistas em 2001 e 2004 e o Grande Prêmio Embratel Barbosa Lima Sobrinho em 2009).