A endometriose é uma doença benigna que se desenvolve quando o tecido de revestimento do útero (endométrio) cresce em outras regiões do nosso organismo, tais como ovários, tubas uterinas, intestinos, bexiga e, até mesmo, pulmões. Trata-se de doença crônica que exige cuidado contínuo por causa da ausência de cura e do retorno dos sintomas, uma vez interrompido o tratamento.
A doença atinge a mulher em idade reprodutiva, ou seja, a mulher que menstrua. A média de idade das mulheres, à época do diagnóstico, é de 25 a 30 anos. Aproximadamente, 10% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos são afetadas pela doença.
Acredita-se que múltiplas causas se combinem para produzir a doença, havendo interação de fatores mecânicos, genéticos, imunológicos, endócrinos e ambientais. Infelizmente, o diagnóstico da endometriose permanece como um desafio para a medicina, pois os sintomas podem ser bastante inespecíficos, o que leva ao atraso de 2 a 12 anos na identificação. Em 25% dos casos não há qualquer sintoma da doença. Na maioria das pacientes, a endometriose apresenta sintomas que podem comprometer bastante a qualidade de vida da mulher. As queixas mais comuns nestas mulheres são dor pélvica (principalmente, cólicas menstruais, mas pode causar, ainda, dor durante as relações sexuais) e infertilidade.
A suspeita de endometriose surge durante a consulta médica, a partir da avaliação das queixas da paciente e do exame clínico-ginecológico. Ainda não existem exames que permitam o diagnóstico definitivo da endometriose. A ultrassonografia pélvica e/ou ressonância nuclear magnética podem ser úteis na avaliação da extensão da doença, mas devem ser realizadas por profissionais devidamente capacitados. O diagnóstico definitivo da doença, contudo, é sempre realizado por meio de técnica cirúrgica, após biópsia e análise do material obtido.
Não está cientificamente bem estabelecida a relação entre endometriose e infertilidade (ausência de gravidez, após um ano de relações sexuais sem uso de qualquer método contraceptivo). Sabe-se que muitas mulheres recebem o diagnóstico da doença durante investigação médica por dificuldade para engravidar. Vários são os possíveis motivos para que a doença diminua a fertilidade da mulher, dentre eles estão a obstrução das trompas uterinas, o comprometimento do transporte de espermatozoides até o óvulo, as alterações ovulatórias e as dificuldades de implantação do embrião no útero. Embora nem toda mulher com endometriose seja infértil, encontra-se a doença em 20 a 50% das inférteis.
O tratamento da infertilidade em pacientes com endometriose é controverso. O mecanismo pelo qual a endometriose produz infertilidade ainda não foi esclarecido. Dessa forma, a escolha do tratamento dependerá de fatores individuais como idade da paciente, tempo de infertilidade e presença de outros fatores de infertilidade. Estudos recentes recomendam a avaliação com equipe multidisciplinar especializada e tratamento individualizado.
O tratamento medicamentoso não deve ser usado em casos de infertilidade. Uma vez que, as medicações disponíveis não aumentam a fertilidade e, ainda, impossibilitam a concepção durante o tratamento, visto que em sua maioria interrompem o ciclo ovulatório e suspendem as menstruações.
A abordagem cirúrgica pode ser benéfica em alguns casos. É importante ressaltar que a cirurgia deve ter o compromisso de promover a fertilidade e não comprometê-la ou agravá-la. Dessa forma, deve-se ter cuidado especial com os ovários e evitar cirurgias repetidas que podem comprometer o “estoque de óvulos” (reserva folicular), além de prevenir ou minimizar aderências. As condutas operatórias devem ser individualizadas e ponderar a idade, o tempo de infertilidade, a presença de dor e de outros fatores de infertilidade.
A inseminação intrauterina – IIU, com estimulação da ovulação, pode ser realizada em casos de endometriose mínima e leve, se as trompas estão normais, e não há associação de outros fatores de infertilidade.
A fertilização in vitro – FIV, bebê de proveta, é a opção em casos de obstrução das trompas, após falha de outros métodos ou se houver outros fatores de infertilidade associados.
Nos últimos anos, todavia, pesquisas têm apontado avanços promissores para o desenvolvimento de novas abordagens diagnósticas e terapêuticas em mulheres com endometriose. A individualização do tratamento coordenado por equipe multidisciplinar é fundamental para o sucesso terapêutico.
Márcia Mendonça Carneiro – médica ginecologista e obstetra do Centro de Reprodução Humana da Rede Mater Dei de Saúde
Mater Dei Santo Agostinho
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Reprodução Humana/Mater Dei - 11/07/2016 endometriose, fertilização, Mater Dei /EM