BRASÍLIA (Reuters) - O governo tem garantidos apenas 34 votos favoráveis ao arquivamento da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, apenas um além da metade, em uma margem muito pequena para afastar preocupações, disse à Reuters uma alta fonte do governo que acompanha o processo.
"Hoje temos garantidos 34. Trabalhamos para chegar a 42. O número que temos hoje preocupa, claro. Tanto que estamos trabalhando", disse a fonte.
Essa conta, diz a fonte, já leva em conta a defecção do PSDB. Apesar de o partido ser da base e um dos mais beneficiados por cargos no governo, o Planalto conta com apenas um voto favorável entre os sete tucanos na CCJ, o do deputado Paulo Abi-Ackel (MG).
"A comissão é dominada pelos chamados 'cabeças-pretas'", disse a fonte, referindo-se ao grupo do PSDB que defende a saída da base do governo.
A CCJ tem 66 membros e 34 é o mínimo necessário para o governo conseguir aprovar um relatório favorável na comissão e facilitar o caminho em plenário. Qualquer falta ou mudança na composição pode alterar o mapa traçado pelo governo.
Outras fontes governistas, no entanto, são menos otimistas e situam o cenário na comissão em torno de apenas 30 votos favoráveis.
"É difícil ver no que vai dar isso agora. Uma coisa era antes da escolha do relator. Apesar do Sergio Zveiter (RJ) ser peemedebista, ele não é daquele PMDB original. Não dá para apostar que o relatório dele será favorável ao governo. E como derruba um relatório contra?", analisou uma outra fonte.
Apesar de também ter agradado à oposição, a base aliada elogiou a escolha de Zveiter para a relatoria do caso. Dizem que ele tem densidade jurídica suficiente --já foi presidente da seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)-- para rebater a denúncia.
"Não vejo a mínima possibilidade de ele inventar provas", afirmou um dos vice-líderes do PMDB e indicado recentemente para a CCJ, o deputado Carlos Marun (MS). Ainda assim, a escolha foi vista com reticências pelo Planalto.
Zveiter é considerado "uma incógnita", disse uma fonte, nunca foi do grupo de Temer e não é "alinhado" com o Planalto, sempre foi visto como independente - o que neste caso, não é uma boa qualidade na visão do governo.
ROMARIA
Com os riscos no Congresso, o Planalto entrou com força em uma operação para salvar o mandato de Temer, com o próprio presidente entrando em campo para conquistar votos de indecisos na comissão.
Durante esta terça-feira, o presidente recebeu pelo menos 27 deputados e sete senadores, de acordo com a agenda oficial, sendo que seis deputados recebidos pelo presidente são titulares da CCJ e outros cinco, suplentes.
Já com uma agenda divulgada na véspera que ia das 8h30 às 21h30, com 21 parlamentares, Temer inclui mais 13 ao longo do dia
Nos encontros, de acordo com fontes presentes às conversas, Temer ouviu mais do que falou, dando espaço para que os parlamentares apresentassem seus pedidos. Presentes à maioria das conversas, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, anotavam os pedidos.
Ao longo do dia, deputados governistas deram indicações, em manifestações na tarde desta terça, que vão procurar desqualificar na CCJ a acusação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer como forma de barrar a autorização da denúncia.
O principal argumento usado pelos aliados do presidente é que Janot tem declarado guerra ao governo e ao Congresso e que a aceitação do pedido daria margem para mais desgaste de ambas as instituições.
A ideia é acelerar a tramitação do processo garantindo quorum em todas as sessões a fim de assegurar a votação do caso na quarta-feira da próxima semana na comissão e, dois dias depois, em plenário. Para tanto, haverá a convocação da base para dar quorum para contar os prazos regimentais e, em outra frente atuar para acelerar a defesa.
O advogado de Temer, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, apresentará a defesa escrita do presidente nesta quarta-feira às 15h. O Planalto quer que Mariz faça a sustentação oral da defesa na CCJ, avaliando que isso daria mais força às teses da defesa.
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