O economista Paulo Rabello de Castro, indicado pelo presidente Michel Temer para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse hoje (29), durante coletiva de imprensa, que o banco terá que permanecer com absoluta transparência e prestação de contas contínua de todas as suas atividades.
Castro vai substituir a também economista Maria Sílvia Bastos Marques, que pediu demissão na sexta-feira (26). Ele disse que precisa se inteirar mais sobre a atuação da instituição, mas que a maior garantia da sua futura administração é a própria Maria Sílvia. “Sucedo a Maria Sílvia e isso me dá a garantia suficiente que de certamente encontro uma casa que enfrenta desafios, mas casa arrumada”, disse.
Para ocupar o cargo, Castro deixa o comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o qual assumiu há quase 11 meses. O economista disse que, a exemplo da sua chegada no IBGE, não pretende fazer alterações na diretoria do BNDES. “A minha política será chegar sem bagagem e sem pedidos de indicação de qualquer espécie, porque não funcionamos aqui no IBGE assim e não funcionaremos assim no BNDES. Aliás, um recado vocês podem dar [se referindo aos jornalistas], por favor não telefonem ao Paulo Rabello, porque será inútil”, disse.
A coletiva de imprensa ocorreu após a solenidade de comemoração dos 81 anos do IBGE, com a presença do ex-presidente, de funcionários e de aposentados da instituição.
Críticas
Em resposta a possíveis críticas que Maria Sílvia teria recebido de empresários que estariam insatisfeitos com a demora na liberação de financiamentos do BNDES e com a substituição da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pela Taxa de Longo Prazo (TLP), que para alguns setores vai aumentar o nível de juros nos empréstimos, o futuro presidente usou uma metáfora e disse que o BNDES tem que ser como um pai que ajuda a caminhar e também sabe soltar a bicicleta para que o filho toque a sua vida para frente. “Empresário brasileiro não precisa de subsídio, precisa de normalidade, o que requer o abandono da ideia de que tem que ter segmentos subsidiados”.
Castro disse que talvez possa ser analisado o processo de avaliação de projetos para tentar reduzir o prazo para a liberação dos financiamentos. No entanto, ponderou, é preciso começar a fazer o exercício do desapego ao subsídio, que quer dizer, de acordo com ele, levar o Brasil a convergir para a normalidade.
“O principal apoio que o BNDES pode dar ao mercado é a disponibilidade do recurso. Não é o coeficiente do subsídio, que decorre do grau de distorção que, historicamente, o Brasil opera com taxas mais elevadas do mundo”, disse. “BNDES é banco de fomento, banco de desenvolvimento, banco de criatividade, de sustentabilidade”.
Coleção de problemas
Para o presidente, o banco tem uma coleção de problemas instalados no passado, que se transformou em um passivo de dívidas em todos os sentidos e precisa ser estruturado. Ele também destacou a baixa demanda por financiamentos.
“A procura também andou rareando nos últimos 12 ou 24 meses. Os PIBs [Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas em um país] trimestrais que estamos publicando mostram que os investimentos, que é a área da chamada formação bruta de capital fixo, tem tido variações negativas, ou seja, quedas atrás de quedas durante meses seguidos. A tradução disso é que a demanda pelo produto do BNDES anda também bastante fraca”.
De acordo com Castro, em qualquer fase recessiva de um ciclo, toda instituição financeira, mesmo a de fomento, tem uma atitude conservadora na oferta de crédito. Ele explica que mesmo sendo uma instituição de fomento, nem por isso o BNDES deve deixar de ter o fiel cumprimento de todas as suas balizas prudenciais. “Quando se junta uma demanda rala com uma espécie de reforço nas regras prudenciais, o resultado final é menos crédito concedido”.
A data da posse de Castro ainda depende de confirmação por causa das agendas dos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, mas em princípio será na quinta-feira (1º) à tarde, no auditório do BNDES, no centro do Rio.
IBGE
Castro disse que teve um encontro, hoje, em Brasília, com o ministro Dyogo Oliveira, e sugeriu que fosse escolhido alguém do quadro interno do IBGE para ocupar a presidência do órgão, embora a entrada de uma pessoa de fora possa trazer um olhar externo interessante para a administração.
“Continuidade se faz muitas vezes com o pessoal da casa e, portanto, sou muito favorável para que, eventualmente, seja alçado a presidir a casa alguém da casa”, disse, apontando, que o IBGE precisa completar a sua reformulação estatutária, instalar as comissões de geografia, estatística e ambiente em 5.570 municípios para que todo o Brasil, dentro de mais alguns meses, esteja conectado de forma virtual com o instituto.
Entre os pontos positivos alcançados na sua gestão está conclusão do plano decenal definido para o período 2017/ 2027, com prioridades do IBGE em cinco áreas que começam com a letra S: Segurança Pública, Seguridade Social, Saneamento, Saúde e Sustentabilidade.
Castro disse que no dia 29 de junho começará a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), importante para sinalizar o funcionamento dos mercados e ponderações dos índices de inflação. No dia 1º de outubro será a vez do Censo Agro. Além disso, há as medições da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que, segundo ele, não pode falhar um dia sequer.
O economista disse que, apesar da restrição orçamentária que enfrenta ao longo dos anos, o serviço da instituição é realizado e festejou a troca de equipamentos do serviço de informática do IBGE, que vai permitir uma melhoria no acesso e depósito de dados.
Ainda em Brasília, Paulo Rabello teve também uma audiência rápida com o presidente Michel Temer para saber as diretrizes na presidência do BNDES. Ele disse que o presidente pediu apenas que o banco continuasse dando atenção aos micro, pequenos e médios empresários.
Edição: Fábio Massalli