Brasília – O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, reconheceu ontem que, nos últimos dias, as incertezas no país aumentaram “por conta de informações advindas do ambiente político”, mas evitou falar dos efeitos da crise política detonada com os efeitos das delações dos donos da JBS sobre a inflação e as taxas de juros. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou ainda ontem que é cedo para avaliar os impactos na atividade econômica.
“O quadro de incertezas ainda é muito recente, não dá para fazer uma avaliação dessas implicações. É preciso aguardar um pouco mais”, disse Maciel. Ele afirmou que o processo de recuo da inflação é robusto e que o custo de vida deve cair um pouco mais até julho e agosto. Segundo Ilan Goldfaj, o BC está monitorando os impacto dessas informações e atuando para manter a funcionalidade dos mercados.
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· BC: quadro de incerteza é muito recente; não dá para avaliar impacto na inflação
Sem citar diretamente a JBS, que está no centro de delações que implicam o governo Michel Temer, Godfajn afirmou que o cenário externo de incertezas “encontra o Brasil em momento de estabilização da economia e de recuperação dos fundamentos econômicos, mas também de incerteza política”. De acordo com Goldfajn, a despeito do fator “não econômico” – ou seja, da crise política –, o Brasil tem amortecedores robustos e, por isso, está menos vulnerável a choques, internos ou externos.
Para ilustrar a questão, Goldfajn voltou a citar, em sua fala, a situação “confortável” do balanço de pagamentos do Brasil. Além disso, disse que o regime de câmbio flutuante é a primeira linha de defesa contra choques externos. “Isso não impede o BC de usar os instrumentos à sua disposição para garantir o bom funcionamento e suavizar choques no mercado de câmbio”, ressaltou Goldfajn.
Ele também voltou a citar o fato de o Brasil ter hoje estoque de reservas internacionais superior a US$ 370 bilhões, ou aproximadamente 20% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma da produção de bens e serviços do país). “Esse colchão funciona como um seguro em momentos turbulentos do mercado”. Outro ponto abordado por Goldfajn foi o atual endividamento externo do setor financeiro brasileiro, qualificado por ele como “pequeno e submetido a constante monitoramento.
VULNERABILIDADE
O presidente do Banco Central afirmou também que “o trabalho nos últimos meses tem sido efetivo em conter a inflação e ancorar as expectativas”. Ele voltou a destacar que a inflação acumulada em 12 meses caiu de 10,7% em dezembro de 2015 para 4,1% em abril de 2017. Além disso, citou que as expectativas de inflação apuradas pelo Relatório de Mercado Focus encontram-se em torno de 4% para 2017 e entre 4% e 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes.
“Esse ambiente de inflação baixa e expectativas ancoradas nos torna menos vulneráveis aos impactos de choques”, disse Goldfajn. “Com expectativas de inflação ancoradas o Comitê (de Política Monetária) pode se concentrar em evitar possíveis efeitos secundários de ajustes de preços relativos que possam ocorrer ao longo do tempo”, acrescentou.
Sobre o cenário externo, o presidente do BC afirmou que ainda há bastante incerteza, “mas num contexto de recuperação gradual da atividade econômica global”. Para ele, apesar de este cenário de incertezas poder ter implicações para as economias emergentes, tanto os Estados Unidos quanto outras economias avançadas vêm se recuperando. “Não podemos descartar a possibilidade de realização de um cenário global mais benigno para o crescimento da economia mundial”, disse.
Insegurança
A divulgação da delação dos donos do Grupo JBS terá impactos na confiança do empresariado, avaliou ontem o gerente de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. Depois de cair 0,9 ponto em abril, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) subiu 0,6 ponto em maio.A pesquisa foi feita entre os dias 2 e 12 deste mês, antes, portanto, da divulgação da delação da JBS. “Havia uma expectativa muito grande sobre a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. Mas, com essa reviravolta, há dúvidas se o atual governo se mantém e se ele terá força no Congresso", comentou o economista.
Estado de Minas- Postado em 20/05/2017 06:00 / Atualizado em 20/05/2017 08:08