Lula exibiu suas variadas facetas na batalha de Curitiba. Começou de guarda fechada à espera de oportunidades para encaixar seus golpes. Para não abrir o flanco, diante de perguntas incômodas de Sérgio Moro, adotou uma postura humilde, parecia inseguro, e deu respostas monossilábicas.
Assim, de esquiva em esquiva, tentou emplacar a versão de que o tríplex do Guarujá, antes de se tornar um escândalo, era um assunto que ele mal ouviu falar, inclusive em casa.
Em uma sequência de perguntas sobre suas conversas com o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, sobre a compra do tríplex, Lula desdenhou do apartamento. Foi além. Disse que não falou sobre reforma do tríplex com ninguém. E comparou Léo Pinheiro, responsável pela negociação de contratos bilionários, a um corretor de imóveis. “Como todo vendedor de imóveis, ele fez de tudo para vender o apartamento”.
Quando Moro aumentou o cerco, Lula tentou escapulir jogando a bola para Marisa Letícia, sua falecida esposa. Depois de dizer que, em fevereiro de 2014, desistiu da compra do apartamento, foi perguntado por que Dona Marisa voltou ao triplex meses depois.De acordo com o depoimento de Léo Pinheiro, ela foi lá verificar se as obras executadas atendiam às exigências dela e de Lula. Lula disse que ela não lhe contou sobre essa nova visita. Soube dela pelo filho Fábio Luiz, o Lulinha, que acompanhou a mãe na ida ao Guarujá.
Ao sentir que não estava sendo convincente, Lula tentou embromar o juiz com uma de suas habituais tiradas, dizendo que os maridos nunca sabem direito o que suas mulheres fazem. A piada não fez sucesso.
Na mesma linha de “não sei de nada, ninguém me contou”, Lula disse que só soube de corrupção na Petrobras pela Operação Lava Jato. Mas se enrolou ao dar sua versão sobre a conversa que manteve com Renato Duque, operador do PT na diretoria da Petrobras, em um hangar no aeroporto de Congonhas.
Contou que pediu a João Vaccari para marcar o encontro com Duque para checar boatos de que ele teria recebido propina por contratos na Petrobras em contas no exterior. Como Duque negou, ele resolveu esquecer o assunto. Em seu depoimento, Duque afirmou que Lula se referiu a propinas em contratos específicos da Petrobras e, caso tivesse mesmo contas na Suíça, para dar um sumiço nelas.
Apertado por Moro, por se contradizer sobre as relações entre Duque e Vaccari, os principais operadores do PT na Petrobras, Lula passou por um mal momento no interrogatório.
Ainda no mesmo papel, Lula disse que, desde 2003, não teve influência alguma no PT. “Não participei de reuniões nem tive cargos no partido”. Verdade. Não precisava disso. Só mandava, como manda até hoje, e o partido obedece.
Quando havia brecha, Lula atacava. Teve uns embates com Moro, e mudou de faceta em arranca rabos com o Ministério Público. Aqui e ali, mostrava impaciência e partia para o ataque.
Lula sabia que precisava aplicar golpes ou contragolpes para a disputa das versões de quem venceu a batalha de Curitiba. Afinal, tudo estava sendo filmado, razão também para Moro tentar evitar que Lula tornasse o interrogatório uma discussão política.
Lula, então, deu várias estocadas. Distribuiu pancadas contra o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa.
Encerrado o interrogatório, Lula pediu para fazer as considerações finais e fez um longo discurso em defesa de seu governo e contra a perseguição que diz estar sofrendo. Moro cortou algumas vezes, sem muito sucesso. Lula alternou momentos de braveza com outros em que parecia conter o choro.
Saiu de lá e foi discursar para sua militância. Ali, falou grosso.
Os petistas saíram de Curitiba dizendo que Lula se saiu bem no embate com Moro. Avaliam que continua em pé a narrativa de que Lula está sendo perseguido por uma grande conspiração para evitar que vença a corrida para o Palácio do Planalto em 2018.
Na avaliação dos investigadores, Lula não se saiu tão bem. Pelo contrário. Não conseguiu dar respostas satisfatórias para nenhuma das acusações imputadas nesse processo — a compra oculta do tríplex, a reforma do apartamento e a conta das despesas com o depósito do acervo presidencial, com dinheiro de propina da OAS por negócios com a Petrobras.
Mas isso já era mais ou menos esperado. Surpresa mesmo foi o tropeço de Lula que, durante o depoimento, se contradisse ao definir quais as relações entre Vaccari e Duque.
A parceria entre Vaccari e Duque é o calcanhar de Aquiles do PT no escândalo da Petrobras.
É por aí que os investigadores esperam nocautear o PT e Lula.
A conferir.
Por Andrei Meireles - 11/05/2017 - 04h14 - OS DIVERGENTES por email em 11/05/2017 - 12h04